segunda-feira, 6 de junho de 2011

Poemas de Segunda



José Carlos Ary dos Santos - Canção de Madrugar

De linho te vesti
De nardos te enfeitei
Amor que nunca vi
Mas sei

Sei dos teus olhos acessos na noite
Sinais de bem despertar
Sei dos teus braços abertos a todos
Que morrem devagar
Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo pode acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer

Irei beber em ti
O vinho que pisei
O fel do que sofri
E dei, dei...
Dei do meu corpo um chicote de força
Rasei meus olhos com água
Dei do meu sangue uma espada de raiva
E uma lança de mágoa
Dei do meu sonho uma corda de insónias
Cravei meus braços com setas
Descobri rosas alarguei cidades
E construi poetas

E nunca te encontrei
Na estrada do que fiz
Amor que não logrei
Mas quis.
Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer.

Então:
Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas,
Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas,
Nem forcas, nem cardos, nem dardos, nem terras
Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas,
Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas
Nem mal.  

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