sábado, 24 de dezembro de 2016

A Missa do Galo

A poucas horas da Consoada deixo o texto

A Missa do Galo
Na noite de breu do meu Alentejo, quando o Natal se avizinhava e o 24 de dezembro caminhava, horas tardias, para a Missa do Galo, havia no ar fumo e cheiro a azinho queimado nas lareiras e o agradável odor do azeite a fritar as filhós e as azevias.
De vez em quando, das pedras da rua, chegavam-nos passos apressados de bota alentejana cardada a caminho do aconchego  da lareira. Da porta da rua vislumbravam-se, ao fundo da rua, os vultos envoltos em capotes e samarras de pele de raposa.
Noite dentro, meia-noite nascida, a igreja acolhia o ritual da Missa do Galo e beijava-se a imagem do Menino Jesus.
O presépio era construído, semanas antes, com o mais belo musgo das pedreiras da ribeira do Mato  Brito que a meninada da catequese recolhia com o ânimo e a alegria de operários que recolhem os elementos e os materiais para a construção do mundo da sua imaginação: o presépio da igreja da aldeia, com todas as figuras a que tinha direito, segundo os cânones de então.
Volto sempre ao Natal da minha aldeia.
Por vezes recordando, mas volto sempre, que essa é a grande capacidade da nossa imaginação: voltar sempre ao lugar da nossa felicidade que é quase sempre o lugar onde fomos meninos. (p.45)


Porfírio, Manuel, (2016).30 Contos de Réis e outras histórias. Lisboa: Edições Colibri 

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